O exemplo de Jesus

Para isso vocês foram chamados, pois também Cristo sofreu no lugar de vocês, deixando-lhes exemplo, para que sigam os seus passos. [1 PEDRO 2.21]

Uma vez que Pedro havia reconhecido a Jesus como Messias, o Mestre começou a ensinar aos discípulos que deveria sofrer. Pedro discordou com veemência: “Não, Senhor, isso não acontecerá contigo”. No entanto, trinta anos depois, a morte de Jesus, que antes lhe parecera inconcebível, se tornara indispensável.

Precisamos lembrar o contexto histórico da carta de Pedro. O cristianismo ainda era uma religião ilegal, e o neurótico imperador Nero era conhecido por sua hostilidade para com os cristãos.

Já haviam ocorrido alguns rompantes de perseguição. Pedro está particularmente preocupado com os cristãos escravos em casas de não-cristãos. Ele diz que eles devem suportar o injusto sofrimento com paciência. Por quê? Porque ele faz parte de um chamado cristão. Porque Jesus, embora sem pecado, sofreu por nós, mas não retaliou, deixando-nos o exemplo a seguir.

A palavra grega aqui traduzida como exemplo é única no Novo Testamento. Ela denota um caderno de exercícios de um professor no qual os alunos traçam suas letras enquanto aprendem a escrever.

Assim, Pedro nos está conclamando a copiar o exemplo de Jesus e a seguir seus passos.Trata-se de um apelo pungente de Pedro, uma vez que ele havia se gabado de que seguiria Jesus até a prisão e a morte, conquanto na prática o tenha seguido apenas à distância. Agora recomissionado, porém, Pedro está determinado a seguir o caminho da cruz e a suportar pacientemente o sofrimento injusto.

Entretanto, surge uma dúvida aqui. Se nos submetemos ao sofrimento injusto, não há lugar para a justiça? Devemos permitir que os malfeitores tripudiem sobre nós e desse modo encorajar o crescente sofrimento?
Não. O texto de 1 Pedro 2.23 responde à pergunta. Ele afirma que Jesus não revidou e que “entregava-se àquele que julga com justiça”.

Em outras palavras, a razão pela qual somos chamados a não revidar não é porque o mal deve ter permissão para triunfar, mas porque não é nossa responsabilidade puni-lo. Esta é uma responsabilidade do justo Juiz tanto hoje, por meio das cortes de justiça, como no dia do juízo final.

Portanto, o amor e a justiça não são incompatíveis; eles se complementam um ao outro, como observamos no exemplo de Jesus.

Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus. Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano.O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente; 1 Pedro 2.18-23

Retirado de A Bíblia Toda, o Ano Todo [John Stott]. Editora Ultimato.